Victor Vasarely
*
O arquitecto traçou a linha
O obreiro fraterno
Ergueu o Templo.
*
A caricatura ficou clara
Na manhã secreta...
Dos homens.
Copistas do Reino
Claramente evasivos,
Subversivos, portanto...
*
Não navegaremos
Sentados que estamos
Imóveis no tempo
Náufragos na memória!
*
Uma sonolência vaga
Sobrevoou...
Sobre o delírio geral.
*
A ironia, arma branca,
Aflora veladamente...
O sono dos justos.
Os interesses, humanamente
Interessados, interessantes.
*
E, os homens
Aportaram, então,
Num cais longínquo
Onde o mundo recomeçava
Límpido, na madrugada.
Junho/1991
Recordas este texto?
Estávamos sentadas há horas na sala do Conselho Pedagógico...eu, tão jovem como rebelde, e tu, como sempre, exalando uma vitalidade e alegria que, os que conheciam a tua vida sinuosa e difícil, tinham que considerar paradoxal. Ouvíamos uma outra Reforma, com os mesmos actores, na mesma Escola e ríamos de conversas laterais.
Já ninguém estuda, ali, o Alemão que te encantava. Já ninguém ri nas reuniões que se prolongam na sua extensa inutilidade. Já não nos ocorre dizer «a nossa Escola» - agora dizemos de forma asséptica, «a escola»...
Saíste há três anos roída pelo teu sonho de menina coimbrã e burguesa - falavas com tanto orgulho do teu pai médico! Saíste minada pela doença e pela tua caminhada frágil.
Oxalá aportes, hoje, no tal «cais longínquo», após as tuas seis décadas de vida, e possas retomar o orvalho de uma primavera distante que, lamento dizer, não sei se existe...
Adeus - ou em Deus - Fernanda.
Ana